quarta-feira, 27 de maio de 2015

Tempinho

“Corpo é tempo” - filme Tarja Branca.
Eu tenho uma revelação a fazer: “Talvez você nunca tenha amado” - monja Jetsunma Tenzin Palmo.
You cannot protect yourself from sadness without protecting yourself from happiness. ―Jonathan Safran Foer
"Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”." - Jacques-Alain Miller 

Faz algum tempo que preciso escrever sobre isso. Reter para observar. Por que escrever para mim é isso, necessidade de parada ou de um novo ritmo nos afetos. Então, quando começo a falhar com o que preciso, meu corpo, sábio, vem em sonho e me acorda e me sacode. 
Ando repetidamente sonhando que vou embora. E que preciso terminar as coisas antes de ir. Triste ou profético, o que me chamou atenção não foi o destino enunciado, mas um dos argumento que apresentei à senhora morte para “dar mais um tempinho”:  - mas eu nem tive um grande amor ainda! 
Há mais de um mês, depois de ver um vídeo com a monja Jetsunma Tenzin Palmo, propus escrever sobre o Amor. Achei a monja desaforada. No vídeo, ela afirma que talvez nunca tenhamos amado. Nunca… Pois, para amar, seria necessário sermos inteiros. INTEIROS. Seres de inteireza. lindo. e utópico? 
(o desaforo pessoal é alguém me dizer que o que considero de mais intenso em mim, minhas lacunas, alguém jogar como impeditivo de afeto)
Vivemos em um mundo fragmentado. Compartimentado. O tempo em pedaços. O corpo em passagem.  Corpos indo à algum lugar. Ou descansando do lugar que estiveram. Ou ansiosos por desfrutar dos poucos momentos em que não estão nem passando nem passados. E a ansiedade jogando-nos nesse pequeno intervalo a um futuro. Não-tempos. Não-lugares. Não-corpos.

“Corpo é tempo” - filme Tarja Branca.

E como ser inteiros em um mundo fragmentado? Talvez a uma monja seja possível. Mas e eu? (eu ia dizer nós, mas sou eu mesma quem estou aqui, afundada nessa fundura) Como viver um amor em extensão e intensão tendo de estar com meu corpo-tempo sempre e sempre e sempre em passagem? Em afazeres completamente alheios a mim e as pessoas que amo? Se, como defendi em outro texto, humanizar é cuidar e só se ama um humano em sua humanidade, como amar em um mundo que o cuidado está fora das pressuposições? Como amar em inteiro em um mundo desintegrado? 
Se amanhã algum de nós cair doente de tristeza ou de alguma patologia qualquer, conseguiríamos largar nossos empregos e compromissos para ficar junto da pessoa que dizemos amar? Conseguimos construir rotinas amorosas de convivência  e compartilhamento com essas pessoas? Projetos construídos na delicia de sua construção em si?  Ou somente eventualidades e vivências esporádicas? Sem nenhuma profundidade? Ansiosos de repetição já que apartados de imersão?
(falsas profundidades)
Ao mesmo tempo, como partir do que não sou e esperar humanidade ainda sim? Eu, confusa, distraída, de seleções esquisitas, as vezes burra e vazia, as vezes transbordada de sensibilidade e afeto, como apresentar-me inteira se o que me alimenta o interesse no outro é exatamente a esperança de que cuide de mim? Que me veja em minhas lacunas ao invés de se iludir em uma  esperada racionalidade cartesiana e agilidade sapiente, máscaras que visto quando preciso de alguns trocados e trofeus.  Como ser inteira se é no outro que pergunto quem eu sou? E nem mesmo a pergunta ando conseguindo fazer já que perguntar é parar? E parar é tudo o que não fazemos em um mundo de velocidade trucidante, como é o nosso? 
  


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