terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Daquilo que espero estar completamente errada...

Hoje acordei com uma borbulhação de apetecimentos. Um incômodo de existir que já não é de agora, mas que hoje exigiu vez e voz. Fato incomum já que me fazer pegar na lida já pela manhã, é realmente de uma proeza sem tamanho.

Acordei pensando na velhice. Desde escrevi o texto para o Gironda Jacobina sobre o senhor Gambé e a relação que estabelece com sua sexualidade, com o dinheiro e principalmente da relação que estabeleci com tudo isso, desde que parei para pensar também na mulher deste senhor, coisa que fiz apenas no momento de escrita do texto, o meu sentimento com relação à velhice mudou de sensação. Transformou-se em medo. Um medo que a muito eu já conseguira ter banido.

Sempre tive muito medo da morte. Parece óbvio, mas esse temor não era igual ao que todos sentem já por instinto e normalidade. Chegava mesmo a me tirar o sono. Recortou minha própria ideologia já que acredito em Deus, pura e simplesmente por não aceitar a idéia de deixar de existir. Aliás, mais do que isso, o que provavelmente depois de alguma reflexão eu talvez conseguisse superar, a idéia da morte de meu pai e de minha avó nunca chegou e nem chegará a fazer parte de meus objetivos.

Mas o veneno da mordida estava em uma relação funesta que eu fazia e isso sim, fruto do senso comum, entre a velhice e a morte. Era uma apreensão de velhice como o inicio de uma cadaverização gradual e desprovida de qualquer misericórdia. Porém, o tempo passa e à medida que detemos o nosso olhar com um pouco mais de cuidado e atenção percebemos os mecanismos dessa máquina de gente que é o senso comum. O mundo quer roubar nossa subjetividade!!! E temos, ou pelo menos, eu creio ter, de lutar contra essa carnificina conceitual.

Aos poucos reformulei o meu parâmetro de beleza e de estética. Uma reformulação que já era fruto de uma outra feita alguns anos antes com relação a minha própria condição: a de deficiente física. O resultado, talvez um pouco “polianesco”, é a conclusão de que as pessoas não têm asas e nem por isso se consideram deficientes físicas! Discordando um pouco de Hannah Arendt, que diz que o nosso corpo é uma prisão, creio que exceto pelas masélas de saúde, é a idéia de corpo que carregamos o que nos aprisiona. Quando nos enquadramos dentro de um rótulo ou ainda, de uma idealização é exatamente aí que nos desumanizamos. Ao nos introduzirmos dentro de armaduras de ferro de esteriótipos como o do “deficiente físico coitado” ou mesmo o de “lutador”, do “quarentão amargurado”, da “gorda feiosa”, etc, é aí que a fudição de cabeça inicia o estraçalhamento de nossa humanidade. O mundo quer roubar nossa subjetividade...

Eu me lembro de uma das aulas da Norma Discini, professora de Análise do Discurso, em que relatava de certa vez em uma festa, ao encontrar uma amiga que a muito não conversava, eis que esta lhe disse: “Nossa, mas porquê você não tira esse bigode chinês?”. Ela relatou que até aquele momento nunca havia reparado que possuía um bigode chinês e que a partir do ocorrido, toda vez que se olhava ao espelho, o maldito bigode estava lá, pronto para ser depilado! Realmente...o mundo é imanência!

A partir daí, tentei estender minha “desesclassificação” de conceitos também às relações feitas com as pessoas que me rodeiam. Um processo gradual, que encontrava resistência na “prova dos nove” do nunca conseguir ficar com ninguém muito mais velho do que eu. Sabe aquelas pessoas que dizem “eu não tenho preconceito, mas não ficaria com um negro!”. Pois bem, quando quero tirar a prova faço a mesma relação. Mas ao fim, consegui. O tempo para certas coisas é santo remédio!

Agora, depois de toda essa historinha, sabe qual é o motivo do meu medo? É que toda essa sofrida reestruturação do olhar foi feita por mim e não para mim. Eu um dia vou envelhecer e aí me vêm os calafrios. Mesmo os homens mais inteligentes que já conheci, retirando-lhes o verniz do discurso politicamente correto, preferem uma linda moça à uma linda senhora. Até porque é completamente possível encontrar o mesmo grau de inteligência e conhecimento em uma mulher de 25, como, por exemplo, a Sonia, minha amiga, e uma mulher de quarenta. Os homens querem ser “gostados” por sua inteligência, mas não abrem mão de uma “gostosinha” à tira colo. Filhos da puta!!!

A questão é: não há como lutar com isso. O silêncio recorta o dizer. Antes de eu abrir a boca, serei uma coitada deficiente física e velha. Independente de eu achar que não sou.

Se minha beleza física reside em minha aparência de ultra jovialidade (ou alguém acha que sou inocente em achar que deixamos de ser uma sociedade preconceituosa e os homens caem aos meus pés porque superaram o preconceito com pessoas com deficiência física???) o que vai acontecer quando essa jovialidade for embora?

Não há como fazer sexo sozinha. Inevitavelmente, nesse ponto, somos totalmente dependentes do olhar do “outro”. Certa vez, uma amiga me disse que o que chama a atenção de todos é que não me comporto como a coitada que esperariam encontrar. Tomara apenas mesmo que seja apenas uma questão de postura e que minha análise esteja completamente errada. Porque, se não for...Medo. Muito medo!                

Um comentário:

  1. Apesar dos grãos inteiros, tem muito farelo nisso aí...depois escrevo sobre isso com menos paixão...
    Menos, menos...

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