quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ariadne sem seu fio à procura do Minotauro


Pisa os pés diante do passo e para. Cansou. A procura era espaçada e ainda que sentisse seus pés e o cansaço dos pés nos pés, nada disso tinha importância e a procura era só uma procura.
O seu destino era  a carne. O seu destino, um arroto do osso fóssil letra, carne. Teimosa, continuava a procura,  teimosa e sempre, continuava. deste pulsar, de nervos em olhares, etereidades em fibras, cartilagens cheias de sentido. afinal, ela sabia. Havia noticias dos que conseguiram. Os conhecia de perto, moravam em si. E ressentia-se de seu útero seco. Engolia memórias, mastigava-as com afinco. 32 vezes, 32 vezes, com afinco! Dentava cenas, dentava odores e tatos, dentava o dente e o ódio do dente. E misturava o dente e a dentada, misturava ela mesma em sua própria saliva, misturava ódio e amor e mastigava-se. Ah, mas o que se come não vai pro útero, o que se come não vai para o útero, o que se come não vai!  E tinha a saliva ressentida, saliva que estragava a própria saliva, saliva que corrói dentes, que apodrece aos cheiros. Sua saliva era – e bem sabia - um cuspe hollywoodiano de terceira categoria. E ainda sim seguia. Tinha esperanças. Peidava ilusões e sonhava anoréxica a letra-carne-amor...
Será?
Eu escrevo a procura.  da estética de um dizer sedução da exatidão. Que ao ser, ao ser e dita se faça carne, carne extensão hiperbólica de mim. Conto-te histórias do que sou e eu sei que mesmo feitas de cenas epiteliais, deveria haver, alguma-uma, talvez pelos em meio aos farelos, um algo recordação, lembrança saudade de amar, um algo amar amor que ama seres e não ideias, que ama em ser e o seu ser em mim, que ama o passo e o tropeço do passo em sua dança-passo, um é de pele rasurada de joelho que é e está e não será talvez e arde, uma víscera ainda viva mesmo que anestesiada, um ódio-sincero, um gozo corajoso e tímido, um ser memória-carne que se faz carne em outra carne, que se faz da carne do outro, que é carne que tatua enquanto rompe a superfície e não a rasga, carne desfossilizada em tu, nesse tu (sem tis passivos) que é vivo e pulsa e trepida e que te quer assim e não sabe como:
Carne-amor-lembrança-afeto,
corpo-nós!      

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