segunda-feira, 6 de maio de 2013

Maio e as minhas bruxas


Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”

Mês de maio, tempo ameno, vida amen… Vida em berlinda. Há três anos, por coinscidência, idiossincrasia (amo essa palavra!), tenho a vida virada pelo avesso nesta época do ano. Sonhos frustrados, mudanças impostas a forceps, embates, pequenos azares, enfim, o que alguns denominam inferno astral. E eu, quase atéia, agnóstica, que vê fantasmas, tem premunição, consulta as cartas, crê no divino, mas não em vida após a morte, estou há três anos acometida de perseguição astral. Os Astros querem me empurrar para algo, mas a quê? Para onde? E eles são cabiciosos, dissimulados, falam em línguas intraduziveis mesmo a esta linguísta de formação e desilusão.
Eis que o fatidico período se arreda de mim, se encosta e, não nego, sinto um frio na barriga, um cagaço mesmo, apoderando-se de meu coraçãozinho pobre latino-americano sem dinheiro no bolso e cheio de sonhos. O mês já começou com quatro visitas ao hospital pela saúde de meu filho, greve escolar, falta de grana, cartão bloqueado. E passei a sonhar com recorrência que pego muitos ônibus e não sei para onde estou indo. Perdida no sonho e na vida? 
O que fazer? O que fazer? Ficar quietinha? Fazer a minha parte? Essas foram as estratégias do ano passado e, por experiência, não deram certo. Fiquei quietinha, estudei para as minhas provas, evitei embates e eles vieram: a bomba na prova de mestrado, as brigas em casa, a saúde debilitada, a falta de grana, a ameaça de despejo, o financiamento recusado. E tudo junto e misturado e me esfolando viva. Salvou-se apenas a almejada mudança de emprego.
E então qual seria a saída? Yo no se!  Mas lendo um texto do blog Incompletudes também sobre o mês de maio, resolve ir pelo caminho da autora: jogar-me! Já que vai me arrebentar, então estou me jogando na briga. Se vai operar mudanças, que as opere de uma vez por todas.    
 E resolvi, suicida, enfrentar todos os bichos papões que tenho guardados até agora.
Esta semana, a reunião com o primeiro deles está marcada.
E que venha maio e junho, eu os esperarei de pé, para uma trepada, ou uma briga de foice.        

Por que esse poema não sai da minha cabeça desde que o vi publicado pelo meu professor no facebook:






"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

Cântigo Negro, de José Régio. 

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