“Yo no creo en brujas, pero
que las hay, las hay.”
Mês de maio, tempo ameno, vida amen… Vida
em berlinda. Há três anos, por coinscidência, idiossincrasia (amo essa
palavra!), tenho a vida virada pelo avesso nesta época do ano. Sonhos
frustrados, mudanças impostas a forceps, embates, pequenos azares, enfim, o que
alguns denominam inferno astral. E eu, quase atéia, agnóstica, que vê
fantasmas, tem premunição, consulta as cartas, crê no divino, mas não em vida
após a morte, estou há três anos acometida de perseguição astral. Os Astros
querem me empurrar para algo, mas a quê? Para onde? E eles são cabiciosos,
dissimulados, falam em línguas intraduziveis mesmo a esta linguísta de formação
e desilusão.
Eis que o fatidico período se arreda de mim, se encosta e, não nego, sinto um frio na barriga, um cagaço
mesmo, apoderando-se de meu coraçãozinho pobre latino-americano sem dinheiro no
bolso e cheio de sonhos. O mês já começou com quatro visitas ao hospital pela
saúde de meu filho, greve escolar, falta de grana, cartão bloqueado. E passei a sonhar com recorrência que pego muitos ônibus e não sei para onde estou indo. Perdida no sonho e na vida?
O que fazer? O que fazer? Ficar
quietinha? Fazer a minha parte? Essas foram as estratégias do ano passado e,
por experiência, não deram certo. Fiquei quietinha, estudei para as minhas
provas, evitei embates e eles vieram: a bomba na prova de mestrado, as brigas
em casa, a saúde debilitada, a falta de grana, a ameaça de despejo, o
financiamento recusado. E tudo junto e misturado e me esfolando viva. Salvou-se
apenas a almejada mudança de emprego.
E então qual seria a saída? Yo no
se! Mas lendo um texto do blog
Incompletudes também sobre o mês de maio, resolve ir pelo caminho da autora:
jogar-me! Já que vai me arrebentar, então estou me jogando na briga. Se vai
operar mudanças, que as opere de uma vez por todas.
E
resolvi, suicida, enfrentar todos os bichos papões que tenho guardados até
agora.
Esta semana, a reunião com o primeiro
deles está marcada.
E que venha maio e junho, eu os
esperarei de pé, para uma trepada, ou uma briga de foice.
Por que esse poema não sai da minha cabeça desde que o vi publicado pelo meu professor no facebook:
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Cântigo Negro, de José Régio.
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