Há quem procure por verdades. Há quem procure por essências.
E nisso tudo, geralmente o que as pessoas procuram são estabilidades.
Segurança. Eu, filha arredia da senhora dos métodos, a Linguística, aprendi com
ela mesma que o método mesmo já é a busca de algo que parte de si. Não adianta.
Só se procura o que aos olhos já é em nós falta. As verdades são um pedaço das
nossas próprias ansiedades. Por isso, acredito que mentiras podem dizer mais. Elas
já vão direto ao que interessa de mim, ainda que sublinhando ou apagando parte
dos fatos. A intensidade do fato, sua vibração. Acredito ser o motivo de que eu
só funcione pelo desejo de intensidades. Só importa o que a mim me atravessa. O
que você é? A sua essência? Pouco ou nada me interessa. Como você me atravessa
é o que eu realmente vou reter. Você pergunta sobre meus projetos a longo
prazo, sobre meus desejos mais secretos, sobre a verdadeira Yara... e nada. Não
há nada de verdadeiro em mim. Eu estou em relação a ti, ao meu corpo e às
minhas memórias. Não encontrará aqui encosto em minhas estabilidades. Sinto
muito. Terá de se segurar em ti. Não me perguntes quem eu sou. Eu não sei nem
mesmo se sou. Se quero ser. Dou um passo. Sinto onde me leva. E só então te
direi o próximo. Ando em uma grande neblina. A espera de que, como uma
fulguração iluminada e quente, você me atravesse. Que rompa alguma fibra e
dispare alguma sinapse do meu sistema nervoso. Alguns podem chamar isso de
comodismo. Ledo engano. O que sabes da força e da dor em sempre segurar o impacto? Em ter de conseguir sempre que não rompas
todas as minhas fibras? Achas que não tenho medo de que me transfigure em ti e
nisso perca o que trago tão frágil e intenso para ti como oferenda?! E da angústia que é só se mover em um caminhar
turvo? E do medo diário ao dar o primeiro passo do próprio movimento de
caminhar? Devo confessar que não aconselharia essa minha ética. Não é inteligente
estar assim. Não há inteligência na paixão. E o que há mesmo disso é uma paixão.
Em andar de peito aberto ainda que sob o perigo do relâmpago. Um requinte de
esfomeado. De escolher sentir a caricia ou a dor no que tem de mais nevrálgico.
Há quem procure verdades. Há quem procure essências. Eu procuro indefesa o que de
tão intenso é em ti que me atravessa. E se, ávido de nomes e classificações,
ainda insistir em nomear o que “sou”, talvez, sugiro apenas : um atravessamento.
Não exijas outra coisa de mim que não encontros e atravessamentos.
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