Essa semana, ao ler e pensar tantos temas sobre Amor,
relembrei que há dois anos chamei na xinxa
o meu Destino e combinamos que até por volta dos meus trinta e três de
idade eu só quereria afetos. Amores, eu passava, que meu coração precisava
estar um tempo em sereno e o desejo de mais exposição, variação. As vezes, eu
quase volto atrás. Principalmente quando minha vida está em dor de parto,
nascimento e revolução. Dá uma vontade
enorme de pedir uma mão, uma mão fixa, de alguém que, como um anjo, puxe-me pelo
braço e diga “vem, Yara, eu te ajudo de agora em diante. Tó um cafuné pra você
se acalmar.”. Daí eu lembro que mais rápido é pedir ajuda aos amigos. Que mais rápido é eu aprender a ser aquilo
que o destino me rabiscou em lua e signo: ser duas. Ser a que organiza e a que
desorganiza. A que resolve a pintura da casa e arruma a cama. A que é a boêmia
e do lar. A que vai ter de aprender a dirigir pra levar menino na escola e
trabalhar em mil empregos. Para o quê não conseguir só, poder bancar. A
feminista, a foucaultiana, a deleuziana. A que carrega um bambolê, em caso de precisão
do lúdico. A que luta e que descansa. A que escreve e é escrita... Dá um medo.
Mas trato é trato, senhor Destino! Que aprendi a num arredar pé de meus
desígnios. Aos afetos, aos mais lindos
afetos, a janela estará sempre aberta, assim como se deve deixar aberta a
vidraça caso se queira apreciar o belo do pôr do sol. Ademais, eu passo. E
amor, aqui, a quem o ler, é extenso no espectro e vago na incidência. A escrita aqui é profusa no amor, opaca no objeto, dúbia na autoria, mas sempre
vermelha na refração. O vermelho que em mim, conforme combinado, não poderá ter
nada do que amor denote e tão somente o
que do sangue me escorre. Qual o malandro do morro, que em todo canto
tem um doce e uma cama asseada à sua espera, serei a poeta que não ama e
escreve. Mentir é algo que já tenho intimidade. Todas as eus. A que ama e desama e reama em mesmo ato. A que escreve no que se escreve pelo Outro. E só
ao Outro apaga. Nascendo dos rabiscos desse Outro ao que permaneço sobrescrita.
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