Alguns gostariam que eu fosse vazia
ou ao menos
meio vazia
para eles preencherem
com suas conquistas
porém
em mim
água não enche nem
preenche
em mim
água corrente
e prenhe
em si mesma
repleta de memórias
que modifica
ao se movimentar
Água que passa
e impulsiona moinhos
água que percorre o mundo
em sinuosos destinos
água
que a tudo arrasta
e infunda
e alaga
Água
força de Mossoroca
do encontro
da água doce
e água salgada
Doce das delícias de nascer um fio
Parido da terra
e guiado pela Lua
crescer no encontro de outras águas
Salgada
de quando
quiseram-me socar
entulho
à força
em minhas
entranhas
para
meu desejo aterrar
Salgada
da baba que espumei
pela boca
e o sal que despejei pelos olhos
E que hoje
bordam em renda
as ondas do mar
E o desenho que inscrevo
sob o solo em meus afeitos
ele todo
já tentaram preencher
sob escombros
apagou
Mas eu
simplesmente água
incolor
e não vazia
emergi
E com cheiro sim!
do solo em que deslizo
uma peculiar inteireza
Por isso
alguns gostariam que eu fosse vazia
para eles preencherem
ou ao menos, meio vazia
mas em mim a água não enche nem
preenche
fende
transborda
e só aumenta
as vezes
engole
cidades inteiras
as vezes, evapora
e docemente garoa
e acaricia o rosto
de quem dela não se perturba
Se alguns
gostariam que eu fosse vazia
ou meio vazia
saibam
sou água corrente
movediça
não há como
inscrever em mim
seus enganos e desenganos
quem desenha a terra é a água
não há como querer
em água
rasurar.
Como água para chocolate
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