quinta-feira, 12 de julho de 2018


Alguns gostariam que eu fosse vazia
ou ao menos
meio vazia
para eles preencherem
com suas conquistas
porém
em mim
água não enche nem
preenche
em mim
água corrente
e prenhe
em si mesma
repleta de memórias
que modifica
ao se movimentar

Água que passa
e impulsiona moinhos
água que percorre o mundo
em sinuosos destinos
água
que a tudo arrasta

e infunda
e alaga

Água
força de Mossoroca
do encontro
da água doce
e água salgada

Doce das delícias de nascer um fio
Parido da terra
e guiado pela Lua
crescer​ no encontro de outras águas

Salgada
de quando
quiseram-me  socar
entulho
à força
em minhas
entranhas
para
meu desejo aterrar

Salgada
da baba que espumei
pela boca
e o sal que despejei pelos olhos

E que hoje
bordam em renda
as ondas do mar

E o desenho que inscrevo
sob o solo em meus afeitos
ele todo
já tentaram preencher
sob escombros
apagou
Mas eu
simplesmente água
incolor
e não vazia
emergi
E com cheiro sim!
do solo em que deslizo
uma peculiar inteireza

Por isso
alguns gostariam que eu fosse vazia
para eles preencherem
ou ao menos, meio vazia
mas em mim a água não enche nem
preenche
fende
transborda
e só aumenta
as vezes
engole
cidades inteiras
as vezes, evapora
e docemente garoa
e acaricia o rosto
de quem dela não se perturba

Se alguns
gostariam que eu fosse vazia
ou meio vazia
saibam
sou água corrente
movediça
não há como
inscrever em mim
seus enganos e desenganos
quem desenha a terra é a água
não há como querer
em água
rasurar.

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