sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Rimas...


Durmo.
Pouco.
Nunca o suficiente.
Sono.
Muito.
Sempre o excedente.
Viver.
Nada. Sempre Nada.
O Nada em excedente.
O Nada e seus entes.
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Rimas fáceis garantem mais tempo para o sono.
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Pular ondinhas toda semana...


Estamos no segundo dia do ano e volto à minha agenda, uma planilha de Excel, com meus objetivos para 2013, para ver o que foi realizado. Um dos primeiros, o de usar a agenda, já sabia falho. Nem lembrava mais quais eram os objetivos ali descritos! Fico feliz, contudo, por ter feito uso dela por mais tempo no ano em relação ao ano anterior, além de ter consigo realizar ao menos um terço dos objetivos:




O mais fantástico disso, de escrever objetivos todo ano, de pular ondinhas, fazer pedidos à Deus ou aos deuses, enfim, é: o de podermos fazer isso todo ano; o de não fazermos isso toda semana, já que também poderíamos.  Um paradoxo: um milagre e a sua negação, ao mesmo tempo.
Esse ano que passou e que a agenda acima não transparecerá foi um ano de incertezas. Não à toa, a agenda foi usada por mais tempo do que o usual: ela foi um escudo, um bote salva-vidas ante o medo que se acercava. Era um ano de mudanças drásticas. Eu teria de sair da USP, eu teria muitas dívidas pendentes, eu estava com a relação com meu filho abalada pela falta de tempo e espaço que vivíamos, além de estar em guerra aberta com as pessoas com quem morava. Não tinha mais forças para uma seleção de mestrado, sentia-me feia e inadequada e não via uma mão em minha salvação. Eu entrei o ano sabendo de tudo isso e sabia que seria um ano duro. E foi.  Bruxa vidente de meu destino, eu previ e aconteceu e, ainda por cima, em tons bem mais intensos do que os observados em minha bola de cristal coração: eu não saí da USP, fui enxotada, eu continuei com as dívidas e as aumentei, eu passei a ficar menos com o meu pequeno, eu caí em letargia. Mas as mãos também surgiram. Eu fui ajudada por gente que nem imaginava e as soluções aos poucos vieram, com dificuldade, contando os centavos, mas vieram.  Fui ajudada por L. que nem me conhecendo bem hospedou-me, dividiu o que era seu comigo, regatou-me para a vida social, inclusive. Consegui moradia com M., que também, em voto de confiança, abriu sua casa ao Biel e à mim.
2013 foi um ano de rupturas e descobertas: ruptura com minhas utopias - mestrado, descoberta e ruptura com novas utopias – julho de 2013, com minhas fraquezas – militância jogada ao vento por letargia, descoberta de um corpo vivo e que pode bem mais do que eu imaginava e bem menos do que eu esperancei após a primeira descoberta – com a dança, com a vida social, com o feminismo; com a escrita. Aliás, o corpo, grande tema meu em 2013, foi colocado à prova em todos os planos: estético – parei de me esconder em roupas largar e compridas; potencial – parei de achar que não conseguia dançar, falar e me mover em público; sexual – aprendi que o mais subversivo nesse aspecto é a delicadeza, a gentileza e o cuidado, ao contrário do que a tanto tempo eu acreditava. Ser gentil é o que há de mais subversivo no sexo – obrigada feminismo e aos que me ajudaram na prática!
Em 2013, fui colocada no olho de um furacão e então fui obrigada a me mover. O que me traz um desafio bem maior: aprender a me mover sem ter de ser colocada à prova. Acho que é o grande desafio pra vida toda, mas tendo em vista tudo o que passou,  terá de ser o grande passo de 2014.
Ainda não fiz a minha lista para o ano que chegou. Falta alguma reflexão aos objetivos que, este ano, não estão todos à mão.
Contudo, já fica então o primeiro: usar a agenda...rsrs!
     

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O parto-poema



Abro as pernas e arreganho o verbo
como quem aborta do Outro
o que lhe é fórceps e mordaça 


Das palavras fez-se o útero
e do sexo, fiz-me úmida 
Apodreci folha e raiz
e na letra fiz-me sangue e placenta
fecunda
matriz.

Hoje rasgo o verbo como quem rasgou meu útero
e se ainda não sou um parto e seu grito
sei ao menos já ser repetida contração

E o MEU grito já é
em contraste e dilatação
de todas as segundas pessoas do que é silêncio:
serei a primeira pessoa de minha própria poética
fêmea, prenha
aleijada
de apassivadores .

Foder com poema,
foder na poética
na razão, na leitura e no leitor
meu corpo, minha voz:
ainda que em gestação,
abortiva, mas não mais
abortada. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sssss...


partem-se sais e louças
sibilam sonhos
no vento
eu ouço
e quebro-me em cacos:
recolhidos os farelos das ilusões,
é hora de dormir
e sonhar...

A janela estará fechada
e o vento não mais derrubará louças:
ninguém explica, todavia
o sal partido
enquanto mesmo quebrada
o vento sibila sonhos
e sou cacos
ainda que acordada.
é hora de dormir
eu fecho a vidraça
e nada
Ssssssssssssssssssssss. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sobre saber quem se é


Por estes dias, em conversa com uma amiga, expunha a ela como contraíra uma divida imensa em coisas fúteis, em um momento no qual, de uma hora pra outra, tive grande prazer em adequar-me a um ambiente novo e a uma nova imagem. E depois sobre o arrependido de minha impetuosidade, pois, também de uma hora, aquela estética perdera todo o sentido. Neste momento, então, ela me disse: “por isso é importante a gente saber quem a gente é”. E desde então essa frase não sai mais da minha cabeça...”saber quem se é”.... Saber quem eu sou...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A língua do Outro é sempre estrangeira

- Deixo eu te falar uma coisa?
- Hum?
- Você é muito bonita...
[...]
- Quando você diz que não sabe quem é, que não consegue se ver, isso quer dizer que quando eu digo que você é bonita, eu não lhe disse nada? Não se importa com isso? É um elogio em vão?
- Diz algo sim, diz que és gentil... mas, você tem razão, eu não entendo o que quer dizer quando diz que sou bonita. Ou para quê serve - como receber um elogio em língua estrangeira?. Eu acho que estou fora de tudo isso, nem bonita, nem feia, ou os dois, o horror e o sublime pendendo mais ao...não sei... Você tem alguma razão: só importa a sua gentileza.