quinta-feira, 27 de junho de 2013

A minha ex-amiga


E, finalmente, poderá culpar à outra
E, finalmente, a semente de meu útero não mais erva daninha em sua boca flácida
e não mais seu útero estéril ressentindo do meu
(tão violentamente preenchível...)
e suas teses, agora, sem a quem culpar pela languidez estridente de seu próprio som
(esganices e mudez aos gritos)
e a sua vagina ressequida cuidando,
finalmente,
em expandir-se no eterno memorar de sua própria vazies
(vagina desnutrida de gozo e amor)
e puta, e vaca, e vadia, e louca, e perturbadora, e barulhenta
e todos os adjetivos por ti tão selecionados a esta
( e tão deliciosamente adquiridos em vida e sangue...
e tantas vezes, tantas vezes!)
 já não mais farão peso em seu discurso marxista materialista inflexionado
e poderá usá-los logo em breve, sem dissimulitudes,
pois já desertará solto o seu egoísmo prenhe e histérico
fecundando repetidamente a nossa sala,
cagando euforicamente e livre o chão do banheiro,
e lambendo sem limites o quê já assedia de meu quarto,
sem Esta
A “culpada-por-toda-a-falta-de-saúde-e-produção-acadêmica-não catedrática-fazedora-de-barulho-inacademico–absurdo-meritocracia-para-assistencialismo-já!”
Finalmente!
sem  reprovações, apalpar em felações e fel as dobradiças da  minha janela, embaraçar sem resistência o box com os restos de sua careca-sem-colageno-por-causa-da-vanessa-yara-com-filho-mãe-solteira-fora-universidade!,
enfim
expor a imundice de suas calcinhas em meus varais,
retirar minha louça da mesa,
(“só pra ela ver quem manda, quem manda...”)
abrir a caixa de eletricidade sem meu micro ondas
“atrapalhando! Sempre atrapalhando!”
E espionar já não mais aflita a vista do meu quarto  
-       DELA?
-       ilegítimo! ilegítimo!
tão maternalmente decorado
de adesivos infantis
“DELE”
e tu os arrancará à unha!
de meu antigo quarto...
úmido, sempre úmido...
violentamente estética –favela-varal
(ao seu clássico gosto pelo reto e rígido e seco, sempre seco)
vandalizado em gozo,
choro de criança e
no anarquismo de meus doces sonhos
- teorias de minorias? Não são válidas!
- sonhos irregulares e sem matricula USP, ãh!
finalmente!
cederá TODO o espaço à SUA
sempre áspera angustia em fingir-se ser maior do que é
(morfema zero e autoritário)
e , finalmente,
o SEU - pronome possessivo materialista sem minorias
espaço
SEU
finamente
seu
e só
e espaço
e espaço
e só
E pela última vez
o meu passo
inadequado
estraçalhando o seu latir alvoreado em verniz barbarizado  
“I’m love Londres with my latrinas mind
and with my USP doctor rótulo in nothing  sincere”
o vidro-ego-reflete o brilho
mesmo quebrado e engessado
e não parte-se
engessado é    
(o amor aborto in natura vitro)
Finalmente!
Não mais precisará frisar em bold o seu entrar em casa apavorado
ansiado de atenção rasurada
“eu estou aqui e PRECISO  de atenção”
“eu estou aqui e PRECISO  de admiração”
“eu estou aqui  e  PRECISO  que me devas sua paciência”
“eu estou aqui e me DEVES sua existência”
“EU ESTOU!
EU sou!
eu...
rastro de lesma
andar de cobra
livre
(eu não mais a que arrasta o seu arrasto!)
enfim beijar o chão e o sal  da definhada cultura plagiada
masturbar every day com a demagogia
SEU próprio
e infecundo coito
e de meu silencio
Saciar-se
finalmente!
mirar ao espelho
os trejeitos ensaiados de sua boca
em batom vermelho e intocada refletida
de dentro
de meu antigo quarto,
finalmente,
agora SEU.         

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mea Culpa


Semana cansativa, acelerada, como se eu tivesse entrado em uma montanha russa e estive em um eterno looping. A cidade ferveu, eu fervi, e do alto de meu castelo de vidro ainda sim fui atingida de todos os lados. Informações mil, responsabilidades idem. Eu tinha que escrever sobre muitas coisas, sobre o texto passado, sobre estética, sobre esperança. Mas só consegui repassar informações sobre outras coisas. Um bombardeio delas. Eu teria uma lista de textos para postar aqui caso quisesse abarcar tudo. Mas o que me impressionou nesta semana foram: a esperança de que algo aconteça; que a mídia e as pessoas ainda podem mudar de opinião sobre algo; e o extremo contrário: a raiva que as pessoas têm de quem quer mudar alguma coisa.
Eu não vou entrar no mérito da questão das manifestações desta semana em São Paulo. Quem quiser saber o meu posicionamento, favor ler os textos aqui. A questão é: não sabemos debater – e, por isso, o mea culpa com relação ao texto anterior no qual ao invés de bater nas ideias, bati nas pessoas.
Observo que as redes sociais podem servir entre outras coisas como mero reflexo opaco de egos, de quem não quer nada que não confirme sua opinião (não é o caso dos meus amigos, deixo claro!). Por onde li comentários de textos, vi que as pessoas não leem as informações que têm acesso, não querem discutir argumentos e rede social é só para “se exibir”, um retrato estagnado de monólogos vazios. Ninguém quer sair de seu umbigo. Um amigo querido temeu, frente a comentários que postei em discordância a seu ponto de vista. Uma pessoa extremamente gentil, pois veio validar comigo se eu “havia ficado brava”. Eu não fico brava e acho que ninguém deveria. Deveríamos poder debater pontos de vista discordantes com naturalidade. Eu o entendo, contudo, pois o correto não é  o real e ele se preocupou que eu levasse para outras esferas a impressão que tenho dele. Gentil preocupação. Vejo que muitas pessoas não têm o trabalho de analisar o argumento contrário, apenas classificar como X, Y, ou Z. Estão apenas gritando e nunca ouvindo.
Em um país recém saído de uma ditadura, e, que, considero, ainda não está em uma democracia, não sabemos debater. Não aprendemos. Não sabemos verificar fontes, nem ler sobre o assunto que opinamos de vários pontos de vista, levamos para o profissional o pessoal e vice-versa, não sabemos ler, nem ouvir, estamos com preguiça. E, dessa forma, é impossível estabelecermos uma democracia, um ambiente de paz real (diferente da pax romana) sem o principio de alteridade.  Uma pessoa é um universo de ideias, e uma não anula a outra, e nada dá o direito a se anular uma pessoa.
E com relação às manifestações sobre as tarifas de ônibus, o resumo do que eu penso é: é constitucional o direito de protesto, independente da validade. Enquanto não aprendermos a respeitar quem sai nas ruas e fazermos isso de forma civilizada, nem que seja pela proteção dos ualas cor de rosa, da cor do peão nos jogos  de xadrez, das questões menores, as sem importância a nós, não saberemos sair nas ruas pelas outras coisas. Quem escolhe a validade de uma manifestação e com base em quê? Aí é que está. O Estado acha que o que o atinge não é valido, por exemplo, a manifestação para baixar as tarifas e greve de professores (em várias manifestações de greve de professores a polícia também desceu o cacete). A Igreja acha que Marcha das  Vadias é caso de polícia. Já o movimento “Cansei” acha que a democracia é caso de polícia. Aí é que está: quem escolhe o parâmetro para se fazer uma manifestação? Precisamos criar uma cultura de sair na rua por tudo mesmo, mostrar ao Estado quem manda aqui, que as pessoas estão atentas. Enfim, o resto do que eu penso, está de acordo com o que foi publicado no link citado. E, por favor: o seu direito de ir e vir não é mais importante do que o meu direito de achar que ele passa por cima do meu direito de ir e vir.              

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os falsos cultos


Começou. Aquela semana em que esta anja que aqui escreve  se transforma em um Gremlin comedor de egos (o seu, o meu, o do vizinho...nada pessoal!). E, inspirada pelo mal tempo e pela chuva, acordei a pensar o que torna pessoas letradas e com alto nível de interpretação de discurso completamente rasas e suscetíveis  a narrativas baratas e de complexidade de dramalhão mexicano nível menos um. E o pior: sem o saberem que são. Por que todo mundo gosta de coisas bregas e piegas em alguns momentos da vida. Mas, nem por isso, saímos assinando contratos sem ler após assistir a novela das oito.
Pensei e, claro, não resolvi nem resolverei o assunto. O melhor que consegui fazer foi listar os tais comportamentos que classifiquei como “farsas filosóficas “ a fim de começo da minha conversinha intima de botequim. E relembrei do que uns amigos da faculdade de história chamavam de “o tiozonho da padaria”, sujeito que passa o dia a discursar com palavras floridas conhecimentos históricos lá do século XIX como se fossem a última noticia do New York Times. E, em homenagem aos velhos tempos, deixo uma relação do que considero como farsas filosóficas:

Tipo 1 – acho que estudei história enquanto dormia e por isso apresento essa maravilhosa teoria sociológica baseada em nada e coisa nenhuma:
- A pessoa diz ter lido muito na vida, que adora ler, mas é analfabeto histórico?! Plim, plim, plim! #farsa filosófica ativada. De que adianta ler tanto, se a pessoa não sabe: por que é o que é; em relação a quem é; e de onde veio as ideias que tem? E com oassim é letrado e não sabe procurar nem em livros nem num Google da vida as estatísticas e a origem do que diz acreditar? Ah, vá!

Tipo 2 – não tenho argumentos, então uso estes que eu usava na sexta série e funcionavam:
- A pessoa não rebate a ideia discutida, mas a identidade de quem a concebeu. Típico de quem não quer dar o braço a torcer de que nunca leu o autor citado, ou mesmo de que a grande profundidade do que defende, na realidade, vem lá do Datena. Plim, plim, plim! farsa filosófica apitando!   Meu, se a pessoa não leu fulano/ciclano colocado na discussão, deve dizer que não leu e acabou! Ninguém leu todos os livros do mundo! Ou aquele outro tipinho que usa como  exemplos fatos que aconteceram com a tia do primo do cunhado da irmã do amigo e é a única exceção que conhece em um único meio restrito a cinco pessoas. Olhar os cinco primeiros metros além do umbigo e citar situações vividas até primeira pessoa e primeiro grau de  parentesco  é condição de argumentação para conversar comigo e, acho, que com qualquer pessoa séria.

Tipo 3 – sei gramática normativa, sou o próprio Pasquale, e acho isso o suficiente para filosofar sobre a vida, para fazer sexo, para as regras de física quântica, para costurar botões na camisa e para insights de antropologia...   
- A pessoa decorou as regrinhas de português. Só esqueceu de aproveitar que sabe ler bem para ler coisas mais complexas do que  a coleção Sabrina. Plim, plim, plim! #farsa filosófica ativada. Passou a vida a ler autoajuda e se considera culta/o/? Nem preciso argumentar, né?

Tipo 4 – minha ciência é melhor que a sua, ou voltando aos argumentos de 6ª série só que com pós-graduação:
-       A pessoa acha-se mais cientista (intensivo aqui pode, produção?) do que os outros de outras áreas. Afinal, a sua ciência é ciência e a outra ciência (?) não. #farsa filosófica. ativada. Voltar duas casas e estudar Historiografia da Ciência.

Tipo 5 – Revolucionário só de gogó:
-  A pessoa diz ser marxista, mas humilha a faxineira, é machista... #farsa filosófica ativada. Conceito de Patriarcado ao tal marxista passou longe, né!

Essa foi a minha listinha do dia. É claro que alguém pode se identificar com o que leu e eu mesma já reproduzi alguns dos comportamentos acima, quando me achava culta e superior só por ser linguista, por exemplo. Mas nomear é o primeiro passo para se identificar algo. O fio condutor em todos os itens da lista é o mesmo: a figura do professor que reclama da vagabundagem do aluno, mas há anos não põe as mãos num livro descente.  É o arrogante hipócrita. O falso sábio leitor da Veja.  
Se o apelo “mais amor, por favor” nunca foi tão necessário, eu faria um outro: ”humildade e curiosidade, por favor!” . Confessar que não sabe de tudo, aliás, dar-se conta disso, não aconselhar sobre o que não viveu nem entende é o que entenderia por sabedoria. Por sabedoria e pura elegância.     

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ariadne sem seu fio à procura do Minotauro


Pisa os pés diante do passo e para. Cansou. A procura era espaçada e ainda que sentisse seus pés e o cansaço dos pés nos pés, nada disso tinha importância e a procura era só uma procura.
O seu destino era  a carne. O seu destino, um arroto do osso fóssil letra, carne. Teimosa, continuava a procura,  teimosa e sempre, continuava. deste pulsar, de nervos em olhares, etereidades em fibras, cartilagens cheias de sentido. afinal, ela sabia. Havia noticias dos que conseguiram. Os conhecia de perto, moravam em si. E ressentia-se de seu útero seco. Engolia memórias, mastigava-as com afinco. 32 vezes, 32 vezes, com afinco! Dentava cenas, dentava odores e tatos, dentava o dente e o ódio do dente. E misturava o dente e a dentada, misturava ela mesma em sua própria saliva, misturava ódio e amor e mastigava-se. Ah, mas o que se come não vai pro útero, o que se come não vai para o útero, o que se come não vai!  E tinha a saliva ressentida, saliva que estragava a própria saliva, saliva que corrói dentes, que apodrece aos cheiros. Sua saliva era – e bem sabia - um cuspe hollywoodiano de terceira categoria. E ainda sim seguia. Tinha esperanças. Peidava ilusões e sonhava anoréxica a letra-carne-amor...
Será?
Eu escrevo a procura.  da estética de um dizer sedução da exatidão. Que ao ser, ao ser e dita se faça carne, carne extensão hiperbólica de mim. Conto-te histórias do que sou e eu sei que mesmo feitas de cenas epiteliais, deveria haver, alguma-uma, talvez pelos em meio aos farelos, um algo recordação, lembrança saudade de amar, um algo amar amor que ama seres e não ideias, que ama em ser e o seu ser em mim, que ama o passo e o tropeço do passo em sua dança-passo, um é de pele rasurada de joelho que é e está e não será talvez e arde, uma víscera ainda viva mesmo que anestesiada, um ódio-sincero, um gozo corajoso e tímido, um ser memória-carne que se faz carne em outra carne, que se faz da carne do outro, que é carne que tatua enquanto rompe a superfície e não a rasga, carne desfossilizada em tu, nesse tu (sem tis passivos) que é vivo e pulsa e trepida e que te quer assim e não sabe como:
Carne-amor-lembrança-afeto,
corpo-nós!      

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Maio e as minhas bruxas


Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”

Mês de maio, tempo ameno, vida amen… Vida em berlinda. Há três anos, por coinscidência, idiossincrasia (amo essa palavra!), tenho a vida virada pelo avesso nesta época do ano. Sonhos frustrados, mudanças impostas a forceps, embates, pequenos azares, enfim, o que alguns denominam inferno astral. E eu, quase atéia, agnóstica, que vê fantasmas, tem premunição, consulta as cartas, crê no divino, mas não em vida após a morte, estou há três anos acometida de perseguição astral. Os Astros querem me empurrar para algo, mas a quê? Para onde? E eles são cabiciosos, dissimulados, falam em línguas intraduziveis mesmo a esta linguísta de formação e desilusão.
Eis que o fatidico período se arreda de mim, se encosta e, não nego, sinto um frio na barriga, um cagaço mesmo, apoderando-se de meu coraçãozinho pobre latino-americano sem dinheiro no bolso e cheio de sonhos. O mês já começou com quatro visitas ao hospital pela saúde de meu filho, greve escolar, falta de grana, cartão bloqueado. E passei a sonhar com recorrência que pego muitos ônibus e não sei para onde estou indo. Perdida no sonho e na vida? 
O que fazer? O que fazer? Ficar quietinha? Fazer a minha parte? Essas foram as estratégias do ano passado e, por experiência, não deram certo. Fiquei quietinha, estudei para as minhas provas, evitei embates e eles vieram: a bomba na prova de mestrado, as brigas em casa, a saúde debilitada, a falta de grana, a ameaça de despejo, o financiamento recusado. E tudo junto e misturado e me esfolando viva. Salvou-se apenas a almejada mudança de emprego.
E então qual seria a saída? Yo no se!  Mas lendo um texto do blog Incompletudes também sobre o mês de maio, resolve ir pelo caminho da autora: jogar-me! Já que vai me arrebentar, então estou me jogando na briga. Se vai operar mudanças, que as opere de uma vez por todas.    
 E resolvi, suicida, enfrentar todos os bichos papões que tenho guardados até agora.
Esta semana, a reunião com o primeiro deles está marcada.
E que venha maio e junho, eu os esperarei de pé, para uma trepada, ou uma briga de foice.        

Por que esse poema não sai da minha cabeça desde que o vi publicado pelo meu professor no facebook:






"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

Cântigo Negro, de José Régio.