terça-feira, 15 de outubro de 2013

Gauche acadêmica


O problema todo é este: as escolhas certas nas categorias erradas. Minha alma - embora negue com veemência - é de uma linguísta. Meu coração, contudo é da história. Meu tesão, da literatura. Daí que, se meu coração fosse da linguística, meu tesão da literatura e esquecesse a história, eu teria uma linda carreira acadêmica em semiótica. Se minha alma e meu coração fossem exclusivamente da linguística, eu não teria tesão, mas teria uma brilhante carreira acadêmica aos 26 anos de idade. E, se, minha alma e coração fossem da história e mantivesse meu tesão com a literatura, eu teria uma brilhante carreira no marxismo materialista que ocupa toda a Letras. Mas eu nasci gauche. Eu acho chata e abstrata demais a teoria literária marxista, acho fútil a semiótica e, hedonista, cedo fácil a qualquer teoria que assim como a literatura, procure pelo discurso literário o que também em si seja tesão.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Todo cuidado

E em dias de sexta, em que o tempo bom, o otimismo catalogado, o álcool e a volatilidade do desejo, enfim, o caráter etéreo de encerramento das horas de sexta, em que encontros foram dados a acontecer, todo cuidado é pouco, pois a vida e a literatura já me ensinaram: "o amor é sexualmente transmissível".

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O poema é o início do beijo


Eu, aqui,
ótica
fibra
(sangue em luz retinta)
projeto-me
em seus olhos
aos seus lábios
nossos
desde aqui.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Textos abduzidos

Sumi com dois textos meus anteriores, pois não concordo mais com eles.
Atenciosamente,
autora indecisa.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Gabriel e o pastor


Sábado a noite, Gabriel, meu filho, e eu fomos ao noivado de uma amiga.  Tudo muito bem, festa linda, comida saborosa, e, mesmo Gabriel tendo relutado em ir ao evento, percebi que se divertia. Chegou o momento do discurso do casal e o noivo, recém convertido à fé cristã, chamou o pastor de seu afeto para também discursar sobre o noivado. Crianças são impacientes com essas tradições de adultos e Gabriel logo começou a ficar inquieto. Até aí, normal. Mas, conforme o pastor começou a falar sobre a  “importância da família”, dos “casais que não se separam”, etc, Gabriel dizia “este cara está me enrolando” com certa agressividade incomum a ele. E falava de modo a que o pastor pudesse ouvi-lo. Eu sou agnóstica.  Contudo, nunca  falei nada que colocasse qualquer religião sob questão. Minha mãe é católica e até reza com Gabriel. As vezes, critiquei o Papa na frente dele, ou a igreja, mas não o discurso da fé alheia. Já me perguntou se podia acreditar em Deus e eu disse que sim.  E mesmo em relação ao discurso dos noivos, ele reagiu de modo menos agressivo. Então, em casa, pensando sobre o assunto,  retomei uma atitude parecida que Gabriel teve no restaurante da USP (a funcionara, estando o local cheio, deixou que fossemos nos sentar em um local vazio do restaurante. Depois, pediu que nos retirássemos de onde estávamos, pois só havia aberto exceção a mim  e ao Gabriel de nos sentarmos ali e não aos meus acompanhantes. Segundo ela, o local estava limpo e não poderíamos sujar o chão) em que, com raiva, jogou comida no chão propositalmente.  Nós, Gabriel e eu, éramos a única família ali que não se encaixava nos padrões elogiados pelo pastor. A única que não prezava pelo casamento, pela existência de homem na configuração familiar. A comparação do pastor foi “casais que se casam e ficam juntos para sempre=família verdadeira em Deus” versus “as outras =sem Deus”. Gabriel notou (eu também, mas sem novidades). E reagiu.   Como culpá-lo por ter reagido?

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Barata


Seus pés: pequeninos, veias fortes, pelos.
Há quilômetros e quilômetros ao sol. pés que consomem caminhos.

O chão cinza brilha e reluz em prata . E ela caminha sob ouro de tolo.
Muitos caminhos. E todos, o sol era barato e a vida cara demais para planos futuros além do brilho no concreto/
Na cidade, há muitas baratas. Tontas. Desbaratadas por caminhos que dão sempre para debaixo dos pés que as esmagam.
Seus pés sempre inchados. Todavia, as pernas fortes, que seguem o horizonte a pé
( apesar da violência, da violência, da violência...)
Na cidade de baratas e prédios, o horizonte está em toda esquina
(e em nenhuma).
Espera que seus pés a levem sempre por esquinas úmidas. Esquinas com mijo, com música, com um povo esquisito(!), com pequenas baratas que sejam sempre pequenas/ esquinas  assimétricas. e vivas.

seus pés consomem 
caminhares

antes que vire
a barata 
de Kafka
sem pés
e esmagada.        

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O meu plano A era Vinicius, mas...



 agora ele é apenas um mau agouro

Se a vida é “a arte do encontro”, sou desvivida em desencontros. 
Encontrada apenas com o anjo torto do gauchismo Drummondiano. Sem rancores, sem rancores!
Apenas é que faz dois dias ando a pensar em meus desencontros. E comecei a lista-los todos, in memoria. Eu sou meio maso mesmo.  
Encontrei um filho, desencontrei um pai. Fui apaixonada por um mocinho da Letras por anos e acabei ficando com o outro, que eu era a fim, mas justo quando... descobri que estava grávida. Aliás, estar grávida é chamar encontros desencontrados em feto.
O outro se declarou  a mim no dia que peguei o exame de positivo. O amigo de amizade colorida se engraçou comigo com a barriga crescendo. Depois, se apaixonou por uma mocinha linda e a abandonou pra ir pra França. Daí ficou dois anos e quando voltou eu acabara de começar o namoro. Quando terminei o meu, começou o outro...  Eu menstruo em meus encontros, eu passo mal, fico sem grana, o metrô cai, é Hiroshima-micro-in-loco, saci trocando a hora do relógio, um atraso, deslocos.
Eu disse que o amava quando ele não. Ele disse que me amava quando eu não. Eu tive sempre bons empregos, só que ao contrário. O primeiro, eu teria sucesso, se  antes houvesse passado pelo atual. E o atual, pelo primeiro. E o do meio, se no fim.
Vinicius era meu plano A. Mas nasceu antes e ainda tirou sarro, safado! Chico era o B, Vinicius, novamente, desaforado!  Sem rancores, sem rancores... meus desencontros geraram todos os demais encontros desencontrados, se eu pensar melhor, com mais bossa, né? E que meus desencontros sejam eternos enquanto durem!