Final de semana cansativo, atrapalhado, confuso, cansativo,
cansativo e cansativo! Neste último final de semana, foi a festa de aniversário
do meu filho. E eu, em minha morna ingenuidade juvenil, resolvi fazer uma festa
com frutas, milho cozido e cachorro quente - bolo e doces no final, nos parabéns. E não fiz uma decoração usual.
Escolhi para a decoração expor fotos
dele e nossas, em diversas fases da vida, com pessoas queridas. E optei por
suco e cerveja. Por motivos diferentes. O suco para não haver concorrência de
paladar com as frutas e a cerveja porque acredito que crianças e adultos
deveriam culturalmente ter eventos compartilhados. Mas percebi que quando se resolve
fazer algo que não seja uma linha reta você tem de estar preparado para duas
coisas: número 1, dar errado; número 2, que pessoas torçam para dar errado. No
meu caso, só uma pessoa torceu pelo erro, embora tenha me ajudado também. A
pessoa não me interessa tanto quanto os motivos levantados por ela. É sobre os
rótulos politicamente correto e politicamente incorreto o que eu quero divagar
do imbróglio do final de semana.
A festa foi um sucesso - ou eu acho que foi, nunca sabemos!.
Crianças comem frutas (ufa!), comem milho, comem cachorro quente caseiro, comem
pedra (!), qualquer coisa que as outras tiverem comendo. Pessoas adultas amam
fotos, não amam suco, amam cerveja e amam cachorro quente e milho. A questão,
além do trampo de cortar zilhões de frutas e escravizar a minha prima e amigos,
é sobre o medo do “politicamente correto”.
As pessoas não têm mais medo de serem conservadoras,
machistas, racistas, etc. Elas têm medo mesmo é do “politicamente correto”.
Explicarei.
Até tudo ficar pronto eu ouvi as seguintes afirmações: você
compra cerveja e não compra refrigerante? Compra cachorro quente e acha que é saudável?
Não vai colocar nenhum desenho do gosto dele?
Para além da festa, eu já havia discutido com a mesma pessoa
sobre alimentação e sobre outras coisas. Porque sou mãe e, não nego, as vezes
moralista, mas me preocupo de meu filho comer pizza cinco vezes numa semana.
Será que estou surtando por me preocupar por isso? Acho que não. E porque já
fiz festas nos moldes comuns todas as outras vezes e queria algo diferente. Eu
conversei com meu filho, ele aceitou, e acho que a opinião dele era o que
importava (mesmo que induzida! rsrs!). A mesma pessoa não bebe álcool porque
faz mal. E porque passei mal de bebedeira duas vezes num ano a mesma pessoa me
classifica de drogada. Porque duas vezes num ano É alcoolismo e pizza cinco
vezes na semana é libertário. Não? Ah!
Eu não me meto no prato de ninguém, na roupa de ninguém, no
sexo de ninguém, e acredito que as
pessoas têm útero e esperma para fazerem seus próprios filhos, ou emancipação
para adotarem caso não tenham o útero e os espermas. Contudo, chego à conclusão
de que a classificação em correto e incorreto, tendo em vista que a vida real
vai para além desta classificação bi-polar, está dando um curto na cabeça de
todos. Daí o normal-aceito passa a ser o que for consonante com o senso comum e o que está fora do senso comum é o
“politicamente correto”. O “incorreto” é algo sem lugar. Até porque política
não se discute, esqueceu?! Já deu tchucho na sua cabeça? Porque na minha já
deu!
Assim, a mesma pessoa classifica um vegetariano de radical e
diz amar mais aos animais do que aos humanos. Contraditório/a/? Impressão sua,
meu caro/a/!
Vamos aos demais moralistas da minha lista. Ou os politicamente incorretos de conveniência,
como eu chamaria. Apontar o dedo é um exercício que eu gosto, embora tenha
poucos dedos. O que eu proponho: a pessoa quer ser politicamente incorreta?
Perfeito. Só exigirei que não peça leite no final. Por que vai ter de criticar
também a igreja, vai ter de ter relacionamento aberto e vai ter de encher a
cara no bar no bar comigo e ler poesia pornográfica! Afinal, o denominado politicamente incorreto é
o que é subversivo, o que não tem dó de jogar a merda no ventilador e na cruz, seja
na esquerda ou na direita, o que é amoral.
Não? Não é isso? Pois é... E como eu sei que os tais
politicamente incorretos de conveniência pediriam leite, bem que poderiam fazer
o favor de não se meterem no meu suco e na minha cerveja. Eu não me meto
nem no leite, nem na frigidez, nem na
performance dos senhores mamíferos e suas digníssimas esposas.
Outro ponto alto de tudo foi a minha mais completa
passividade diante de tudo. Eu pedi os parabéns após duas horas de festa na
mais completa exaustão de sentidos e já foram tirando a mesa e tudo e quando
olhei a festa acabou. Um trabalho dos infernos e duas horas de festa. E tudo
sobrando e eu inerte, cansada, sem noção do tempo, do espaço, do meu corpo... E
por que me importei tanto em quem ia embora, se eu queria que tudo continuasse
é o que me pergunto. E porque permiti retirarem tudo, outra questão. A mesma
pessoa que meteu o pau na festa, inclusive. A mesma que escondeu os brigadeiros. Só para deixar registrado o leão-passividade
que me escapou vivo desta vez. O leite
que caiu na minha cerveja.
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