quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fragmentos de "Fragmentos de um discurso amoroso"

Rating:★★★★★
Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Roland Barthes
Página 50

Que é que penso do amor? – Em suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu vejo em existência, não em essência. O que quero conhecer (o amor) é exatamente a matéria que uso para falar (o discurso amoroso). A reflexão me é certamente permitida, mas como essa reflexão é logo incluída na sucessão das imagens, ela não se torna exteriores umas às outras), não posso pretender pensar bem. Do mesmo modo, mesmo que discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito “pelo rabo”: por flashes, fórmulas, surpresas, de expressão, dispersos pelo grande escoamento do Imaginário; estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: “O lugar mais sombrio, diz um provérbio chinês, é sempre embaixo da lâmpada.”

Página 57


Charles pega o queixo do narrador e deixa subir seus dedos magnetizados até as orelhas, “como os dedos de um cabeleireiro”.
Esse gesto insignificante, que começo, é continuado por uma outra parte de mim; sem que nada, fisicamente, o interrompa, ele bifurca, passa da simples função ao sentido resplandecente, aquele do pedido de amor. O sentido (o destino) eletriza minha mão; vou rasgar o corpo opaco do outro, obrigá-lo (quer ele responda, quer se retire ou deixe cair) a entrar no jogo do sentido: eu vou fazê-lo falar. No terreno amoroso não há acting-out: nenhuma pulsão, talvez mesmo nenhum prazer, nada a não ser signos, uma atividade tumultuada de fala: instalar, a cada ocasião furtiva, o sistema (o paradigma) da pergunta e da resposta.

Fonte da Imagem: http://www.visionsfineart.com/benfield/images/duo.jpg

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