segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Poesia, Sexo e Amor, assim, bem juntinhos

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Resolvi que quero finalmente falar de Amor; e de sua deliciosa relação com o Sexo. Digo finalmente porque, como creio ser absurdamente complexo falar sobre isso, demorei muitissímo para tomar coragem para essa "atitude". Mas devo desapontar meus leitores em um ponto: terão de ler sobre isso na voz de outros que não na minha. Paciência! A gente tem de começar de algum lugar. Pretendo com isso não começar de baixo, como poderia-se supor a uma iniciante; mas ao contrário, começar dos céus! E nunca chegar até em baixo; e nem ficar no meio. Que se estabeleça o paradoxo!
Acredito também que o "empacamento" para os primeiros passos dessa reflexão residiu em um desconfiar que carrego nessa minha cabeça caraminholante: Falar de uma relaçao entre Sexo e Amor é absolutamente Trangressor nos dias de hoje! É pecar para os conservadores, mas principalmente, é pecar para os auto-intitulados liberais que de tanto avesso do avesso do avesso, esqueceram o Amor pelas frestas de alguma destas distorções. Façamos sem Amor (e com afeto)!. Mas façamos com ele também! Pequemos pois! Com açucar, com afeto e com amor!

"Sejamos Pornograficos
(delicadamente pornográficos)"

Sex contains all, bodies, delicacies, results, promulgations,
Meanings, proofs, purities, the maternal mystery, the seminal milk,
All hopes, benefactions, bestowals, all the passions, loves, beauties, delights of the earth,

All the governments, judges, gods, follow´d persons of the earth,
These arecontain´d in sex as parts of itself and justifications of itself.

Walt Whitman, A Woman Waits For Me
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Amor – pois que é palavra essencial comece
esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma a expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, Platão viu contemplado:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar esta gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais.
um só espasmo em nós atinge o clímax:
é quando o amor, morre de amor divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas.
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre

Carlos Drummond de Andrade
(do livro “Amor Natural”)

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