sexta-feira, 12 de abril de 2013

E eu quero ter certeza* (com modificações)


Traguei meus olhos em labaredas agudas de lembranças.
Eu queimo e rio. A crueldade é uma condição humana e eu quero ter certeza.
Lanho  a língua nesta faca, tão afiada. E experimento de meu sangue um vestígio de anseio. A faca afia a dor e a dor afia a carne. Palavra-carne. Carne-palavra.  
Eu tomo tantos cafés quantas ilusões aborto. Abortos íntimos, porém nunca infinitos.
As melodias sujas de cores lambem de sonhos o tédio desta página assepsia-em-branco-vida. E dissoluta, embriago-me. Em plena luz do dia a ideia-carne é colorida e escorre impune em mel e veleidade. Saudade. Dissimulo inocências em meus passos gastos. Ninguém pode mesmo sentir o úmido por entre minhas pernas. E sigo de olhos escusos, sempre  baixos para não me delatarem. Os passos, todavia, cantam, e me traem.  
O espelho emudece diante do intocado de meu seio. Não sei quem sou e, por isso, não me vejo. Mas sei que só terei o reencontro de meu fim nas aguilhadas de seus pelos, em suas mãos, por entre o estremecer de meu receio.
A verdade esganiça seu contrário e eu recito paradoxos. Eu minto e sou sincera. Não fujo. E nem me enfrento. O corpo é sincero e a verdade é remedeio. Eu digo que te amo. E sincera, umedeço. Você rasga de mel os labirintos em que me perco.
Fecho os olhos para flertar com as minhas várias. Máscaras? Todas querem te olhar. A que irei vestida hoje será a que nos goze e nos desdenhe. Mentiras? Se dor é fingida, o prazer é sincero. E a verdade só existe no engano do desejo . Ora contigo eu sinto, ora com outro eu sou. E a carne é o meio, é na angústia e é no alivio, é no leito e no desterro. Eu minto com os olhos e por eles sou desfeita. E na candeia de meu choro, cabe mesmo a amargura. Mas no amargo também cabe o óleo do deleite.  
Lavo de cor a palavra e melo de sentido as lembranças de seus olhos.  O que rasgo da letra ainda não é memória acontecida. E já não é fantasia .  Você finge e sabe. E é por isso que desejas relembrar a memória desenhada (desdenhada?). O que há de vir? Não se preocupe, o corpo não esconde. Só inventa e reinventa.    
Trarei meus olhos em labaredas agudas de lembranças. Eu lucidez e delírio. O amor é uma virtude humana e eu quero ter certeza. Desfazer divina estes segredos que ardem.  Em seus pelos, pelo fim, enfim, num ensaio-orgasmo, sussurrar. O rio desaguar e mar.
Na escrita muda, em papel e pele,
a nossa absoluta beleza-nua.  
Eu choro e sorriu.
Em carne que não se entende
não corta e é fissura.
A carne que no outro sente
e arde. 
A memória é uma virtude humana e eu quero ter certeza. 

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