quarta-feira, 3 de abril de 2013

Resposta à minha avó


Neste último final de semana, ao visitar minha vó, esta confessou rezar todos os dias para eu arrumar um marido. O quê?!!! Hã?! Marido? C.A.S.A.R?!!!!
E como tenho muuuuita criatividade para o que é inútil, deixo abaixo a minha resposta a minha boa velhinha.

Justo agora que aprendi ser a mulher sozinha,
que peguei gosto pela boemia
minha avó reza pra eu casar?
Reza não vó, que isso não é prece, é esconjuro!
Agora que o meu filho eu já criei,
que na solidão ao lhe ninar,
solitária eu me embalei.
Minha avó reza pra eu casar?!
Reza não vó, que isso não é prece, é esconjuro.
E agora que o meu filho dorme cedo,
e o gozo eu tateio no segredo de meus próprios dedos,
que no Amor alço voos
e aprendi dos pássaros exigir o meu pousar,
minha vó quer que eu case, e reza?!
Reza não vó, que isso é esconjuro!
Agora que meus traços elegantemente na dor se desenharam,
que a voz curtida em sal emposta algum respeito,
agora que sei erguer os olhos,
sem ter de me esgueirar,
que finalmente aprendi a mentir!
Minha vó reza pra eu casar?
Reza não vó, reza não!
Que seria por demais esconjuro.
Reza não, que aprendi a cozinhar as minhas lidas,
que peguei gosto por eu mesma fazer a cama que escolherei
e de pasargada o homem que eu quero
tem sempre antes de me chupar.
Reza não vó,
que ainda por uma década o carnaval eu ei de me esbaldar.
Que muitas máscaras eu quero ainda desfilar a mil pierrôs
a todos os meus alecrins.
Reze não vozinha,
que isso não é prece,
cinza de quarta-feira é só lamento e infortúnio.
Logo agora que aprendi a trepar ao luar sem ser pega pelo guarda,
que sei ser a Colombina de minhas próprias Venezas,
minha avó reza pra eu casar?
Reza não vó,
que isso não é prece, é esconjuro.
Reza não, que aprendi ser a mulher sozinha
e a solidão não assusta, minha vó,
a quem na libertinagem aprendeu o que é amar.
Reza não, vó,
reza não!
Que rezar por marido e gaiola,
não é prece, é esconjuro!





 
  
 

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