Amor
Humor
Oswaldo de Andrade
“O julgamento, cada vez mais comum, nas abordagens do humor,
demonstram a insuficiência e a impotência dos homens que precisam de
uma sociedade ideal. Entendo quem fica puto com determinadas piadas e
acho que devem responder à altura, de preferência com sarcasmo, porque
todos somos dignos de chacota. Não há ninguém insacaneável no mundo.
Por outro lado, vejo que o desprezo é muito subestimado na
sociedade. Especialmente porque foi inoculada uma ideia de reação, as
pessoas estão muito reativas. “Você precisa reagir.” Será? É o primado da
proatividade, do agir, de usar a inteligência para presidir
necessidade práticas em busca de uma finalidade, de uma resolução. E se
eu quiser ficar calado, parado, apático? O silêncio desmonta qualquer
humorista. Existe sim, uma potência hipercinética na apatia, por
incrível que pareça, e é explosiva. Despreze o humorista mais próximo de
sua casa e economizarás muita energia. Precisamos aprender a calar.
Bruno Maron, cartunista
do Blog Dinâmica de Bruto.
Existe uma patrulha do
politicamente correto? Existe liberdade no politicamente incorreto? Eu estou de
TPM e estou insuportavelmente moralista? Existe uma estética da liberdade? Há
algo em comum nessas perguntas?
Devo dizer, há TUDO em comum nas
perguntas se considerados os acontecimentos desta semana. Tanta coisa, tanta
passivorragia, ataquefutilologia, intoleranciaesquerdopatia,
direitacinismologia, que, eu, Dona Encrenca, consegui me meter em três debates
em menos de dois dias. E depois não acreditam quando digo que o meu inferno
astral coincide com minha TPM! A relação que ata as perguntas (induzidas,
apercebam) colocadas é a relação ética e estética. Conversa de filosofa de botequim? Claro, ora pois!
Faltando somente a cerveja, infelizmente.
Eu sempre, sempre, sempre me
questionei a respeito de duas coisas que agora, plim, vejo a relação, só que
pelo avesso: a demagogia e a chatice da esquerda. Não, não vou defender o
povinho do “politicamente incorreto” que de incorreto só se for terem nascido a
menos de cinquenta anos atrás e não na Era Medieval.
O que eu percebi é que eu e a
esquerda em geral somos chatos! Jura? Sim, juro! Nós somos chatos e pra
caralho! E porquê? Porque não conseguimos mover nossa ESTÉTICA em convergência
com a nossa ética. É claro que gritar, bater pé e apontar dedo são atitudes
apreciadas pela que aqui vos escreve este texto. Bateu em uma das faces, leva
porrada de mão fechada, sem essa de mostrar a outra. Não gosto e não quero o
papel de “boazinha”. Pode pegar esse papel e enfiar no digníssimo você já sabe!
Todavia, entretanto e contudo, o que se passa é eu ter a hipótese de que o que leva
alguém a gostar de ideias que EU (sim, sou neste texto, confesso!), autoritárias, ou a rechaça-las pode estar
também na estética adotada por boa parte da esquerda: a das palavras de ordem.
São necessárias as reações mais
virulentas, menos boazinhas, claro que sim! Ainda vivemos num país machista,
homofóbico, de ignorantes e pseu-intelectuais devoradores de títulos, etc.
Agora, o que amarrou o que vou chamar de fracasso estético de minhas discussões
foi o seguinte: se há pessoas que fazem humor dito machista, ou homofóbico, ou
racista, enfim, porque a resposta sempre fica sob o alicerce da seriedade? Nós
todos temos preconceitos e alguém a todo momento a nos dar sermão não funciona.
Se o humorista X faz piada com mulheres pobres (hipótese), porque não respondemos
com uma piada sobre humoristas em bolhas de vidro à espera da princesa
photoshop, por exemplo? Levar a conversa para o humor, como a iniciativa de uma
enquete que pedia a opinião a respeito do casamento de evangélicos, como já foi
feita para o casamento gay chamou bem mais atenção dos evangélicos à idiotice
do posicionamento de alguns religiosos do que bater o pé, fazer longos
discursos. É necessário também um pouco
de auto-critica no humor, além de ser bom, faz bem pra saúde, opa! E começar a fazer algo que maior parte das
pessoas fazem com relação aos livros e demais itens de suas preguiças:
simplesmente ignorar. Colocar o discurso medíocre exatamente onde dever ser
colocado: no limbo da mediocridade.
Para a coisa não cair no abstrato
puro, as discussões da semana que me trouxeram para este texto foram: a
respeito de um diretor de teatro que enfiou a mão por baixo da saia de uma
repórter vestida de forma sexy, do Programa Pânico; um artigo que criticava
mulheres que substituem suas fotos pela dos filhos, defendendo ser uma marca
discursiva de apagamento da mulher.
Os debates, respectivamente, giraram em torno de se o diretor podia ter
feito o que fez, já que no Programa Pânico, as mulheres se colocam a disposição
de diversas atitudes machistas; e se necessariamente substituir a foto pela dos
filhos é sinal de apagamento da mulher em detrimento de seu papel materno.
Lógico, fui chata. O tal do diretor, Gerald, em minha
opinião, foi um pusilânime, e fez o barbarismo que muitos homens gostariam de
fazer. Sob o rotulo “vagabundas”, muitos
homens se permitem humilhar mulheres, não tenho dúvidas. E eu fui chata, pois
acredito que há sempre aquela cordialidade do bom crioulo no Brasil que faz com
que aceitemos barbaridades só para não parecermos chato. Eu sou assumidamente
chata e acho que quem fala/escreve o que quer tem de aguentar resposta. Mas, por outro lado, achei interessante como
os debatedores conseguiram levar a conversa para um tom mais humorado, menos
chato. Ponto para eles, confesso. Nessa, tiro o meu chapéu.
Eu já consegui , certa vez, em outro “debate” virtual
desbancar a pessoa simplesmente concordando com ela. Eu concordava e, ao mesmo
tempo, expunha a gravidade do que a
pessoa colocava. A pessoa não conseguia me xingar e ainda teve de rir do que eu
escrevi. E acho que é isso. Rir. Colocar o riso nas discussões, o humor, talvez
até mesmo o cinismo, é o que falta a esquerda. Darmos espaço ao humor negro,
contanto que o outro lado também saiba que pode ser o ridicularizado.
E dar espaço ao fútil, por que não? A questão toda veio a
mim, ontem, ao caminho de casa, quando pensava que colocar a foto com filho não
é se apagar, mas do filho, talvez seja. Assim como a pessoa pode ser dona de
casa e é um papel importante. Colocar o papel da dona de casa como menor e
excluir os homens deste papel é que é machista. A ação só é machista dentro do
contexto de que é vendida a ideia de que mães tenham de anular pelos filho. Em
um contexto de homenagem, não. E pensava sobre isso, sobre eu ter de aprender a
levar a vida mais leve, sobre uma amiga feminista que colocou seios e sobre eu
nunca ter pensado na possibilidade, por temer me anular num tipo de plástica
como essa, sendo eu feminista. Temer me anular com silicones nos seios ao mesmo tempo que só usava
saias longas, até o pés, por odiar uma cicatriz na perna.
Somos contradição e devemos usar inteligência também em
nossos debates.
Deixem que todos falem o que quiserem. Ninguém é
insacaneável, já disse o cartunista Bruno Maron. Então, que sacaneemos mais e,
nisso, nos ouçamos mais. Quem aguentar o
tranco, que entre na roda. E a esquerda que também aprenda a tirar sarro de quem a sacaneia.
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