quarta-feira, 17 de abril de 2013

O humor e o meu mau humor




Amor

Humor
Oswaldo de Andrade

“O jul­ga­mento, cada vez mais comum, nas abor­da­gens do humor, demons­tram a insu­fi­ci­ên­cia e a impo­tên­cia dos homens que pre­ci­sam de uma soci­e­dade ideal. Entendo quem fica puto com deter­mi­na­das pia­das e acho que devem res­pon­der à altura, de pre­fe­rên­cia com sar­casmo, por­que todos somos dig­nos de cha­cota. Não há nin­guém insa­ca­neá­vel no mundo.
Por outro lado, vejo que o des­prezo é muito subes­ti­mado na soci­e­dade. Especialmente por­que foi ino­cu­lada uma ideia de rea­ção, as pes­soas estão muito rea­ti­vas. “Você pre­cisa rea­gir.” Será? É o pri­mado da pro­a­ti­vi­dade, do agir, de usar a inte­li­gên­cia para pre­si­dir neces­si­dade prá­ti­cas em busca de uma fina­li­dade, de uma reso­lu­ção. E se eu qui­ser ficar calado, parado, apá­tico? O silên­cio des­monta qual­quer humo­rista. Existe sim, uma potên­cia hiper­ci­né­tica na apa­tia, por incrí­vel que pareça, e é explo­siva. Despreze o humo­rista mais pró­ximo de sua casa e eco­no­mi­za­rás muita ener­gia. Precisamos apren­der a calar.

Bruno Maron, cartunista do Blog Dinâmica de Bruto.

Existe uma patrulha do politicamente correto? Existe liberdade no politicamente incorreto? Eu estou de TPM e estou insuportavelmente moralista? Existe uma estética da liberdade? Há algo em comum nessas perguntas?
Devo dizer, há TUDO em comum nas perguntas se considerados os acontecimentos desta semana. Tanta coisa, tanta passivorragia, ataquefutilologia, intoleranciaesquerdopatia, direitacinismologia, que, eu, Dona Encrenca, consegui me meter em três debates em menos de dois dias. E depois não acreditam quando digo que o meu inferno astral coincide com minha TPM! A relação que ata as perguntas (induzidas, apercebam) colocadas é a relação ética e estética. Conversa de  filosofa de botequim? Claro, ora pois! Faltando somente a cerveja, infelizmente.
Eu sempre, sempre, sempre me questionei a respeito de duas coisas que agora, plim, vejo a relação, só que pelo avesso: a demagogia e a chatice da esquerda. Não, não vou defender o povinho do “politicamente incorreto” que de incorreto só se for terem nascido a menos de cinquenta anos atrás e não na Era Medieval.
O que eu percebi é que eu e a esquerda em geral somos chatos! Jura? Sim, juro! Nós somos chatos e pra caralho! E porquê? Porque não conseguimos mover nossa ESTÉTICA em convergência com a nossa ética. É claro que gritar, bater pé e apontar dedo são atitudes apreciadas pela que aqui vos escreve este texto. Bateu em uma das faces, leva porrada de mão fechada, sem essa de mostrar a outra. Não gosto e não quero o papel de “boazinha”. Pode pegar esse papel e enfiar no digníssimo você já sabe! Todavia, entretanto e contudo, o que se passa é eu ter a hipótese de que o que leva alguém a gostar de ideias que EU (sim, sou neste texto, confesso!),  autoritárias, ou a rechaça-las pode estar também na estética adotada por boa parte da esquerda: a das palavras de ordem.
São necessárias as reações mais virulentas, menos boazinhas, claro que sim! Ainda vivemos num país machista, homofóbico, de ignorantes e pseu-intelectuais devoradores de títulos, etc. Agora, o que amarrou o que vou chamar de fracasso estético de minhas discussões foi o seguinte: se há pessoas que fazem humor dito machista, ou homofóbico, ou racista, enfim, porque a resposta sempre fica sob o alicerce da seriedade? Nós todos temos preconceitos e alguém a todo momento a nos dar sermão não funciona. Se o humorista X faz piada com mulheres pobres (hipótese), porque não respondemos com uma piada sobre humoristas em bolhas de vidro à espera da princesa photoshop, por exemplo? Levar a conversa para o humor, como a iniciativa de uma enquete que pedia a opinião a respeito do casamento de evangélicos, como já foi feita para o casamento gay chamou bem mais atenção dos evangélicos à idiotice do posicionamento de alguns religiosos do que bater o pé, fazer longos discursos.  É necessário também um pouco de auto-critica no humor, além de ser bom, faz bem pra saúde, opa!  E começar a fazer algo que maior parte das pessoas fazem com relação aos livros e demais itens de suas preguiças: simplesmente ignorar. Colocar o discurso medíocre exatamente onde dever ser colocado: no limbo da mediocridade.
Para a coisa não cair no abstrato puro, as discussões da semana que me trouxeram para este texto foram: a respeito de um diretor de teatro que enfiou a mão por baixo da saia de uma repórter vestida de forma sexy, do Programa Pânico; um artigo que criticava mulheres que substituem suas fotos pela dos filhos, defendendo ser uma marca discursiva de apagamento da mulher.
Os debates, respectivamente,  giraram em torno de se o diretor podia ter feito o que fez, já que no Programa Pânico, as mulheres se colocam a disposição de diversas atitudes machistas; e se necessariamente substituir a foto pela dos filhos é sinal de apagamento da mulher em detrimento de seu papel materno.
            Lógico, fui chata. O tal do diretor, Gerald, em minha opinião, foi um pusilânime, e fez o barbarismo que muitos homens gostariam de fazer. Sob o rotulo  “vagabundas”, muitos homens se permitem humilhar mulheres, não tenho dúvidas. E eu fui chata, pois acredito que há sempre aquela cordialidade do bom crioulo no Brasil que faz com que aceitemos barbaridades só para não parecermos chato. Eu sou assumidamente chata e acho que quem fala/escreve o que quer tem de aguentar resposta.  Mas, por outro lado, achei interessante como os debatedores conseguiram levar a conversa para um tom mais humorado, menos chato. Ponto para eles, confesso. Nessa, tiro o meu chapéu.
Eu já consegui , certa vez, em outro “debate” virtual desbancar a pessoa simplesmente concordando com ela. Eu concordava e, ao mesmo tempo,  expunha a gravidade do que a pessoa colocava. A pessoa não conseguia me xingar e ainda teve de rir do que eu escrevi. E acho que é isso. Rir. Colocar o riso nas discussões, o humor, talvez até mesmo o cinismo, é o que falta a esquerda. Darmos espaço ao humor negro, contanto que o outro lado também saiba que pode ser o ridicularizado.
E dar espaço ao fútil, por que não? A questão toda veio a mim, ontem, ao caminho de casa, quando pensava que colocar a foto com filho não é se apagar, mas do filho, talvez seja. Assim como a pessoa pode ser dona de casa e é um papel importante. Colocar o papel da dona de casa como menor e excluir os homens deste papel é que é machista. A ação só é machista dentro do contexto de que é vendida a ideia de que mães tenham de anular pelos filho. Em um contexto de homenagem, não. E pensava sobre isso, sobre eu ter de aprender a levar a vida mais leve, sobre uma amiga feminista que colocou seios e sobre eu nunca ter pensado na possibilidade, por temer me anular num tipo de plástica como essa, sendo eu feminista. Temer me anular com silicones nos seios ao mesmo tempo que só usava saias longas, até o pés, por odiar uma cicatriz na perna.
Somos contradição e devemos usar inteligência também em nossos debates.    
Deixem que todos falem o que quiserem. Ninguém é insacaneável, já disse o cartunista Bruno Maron. Então, que sacaneemos mais e, nisso, nos ouçamos mais.  Quem aguentar o tranco, que entre na roda. E a esquerda que também aprenda a tirar sarro de quem a sacaneia.              
          

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