Tédio. Tédio. Tédio. O mais puro e intenso tédio. Corpos
engaiolados. Gaiolas de porcelana – paredes brancas, chão branco, vidas brancas.
O dia que escorre pelas telas de nossos notebooks. Links e mais links.
Esvaziamentos de cérebros. Anestésicos. Por que a vida que vibra ali fora nos
dói. Eu vejo o tempo desenhar cicatrizes em meu rosto, marcas de minha atonia,
e choro. Não pelos desenhos, não pelo que se foi, mas pelo como se foi. Eu
trago livros, minhas morfinas, eu abro livros de figuras, eu tomo milhões de
cafés, eu ouço músicas que não posso dançar e sonho os meus pés nus no chão,
livres, em compasso.
Eu sonho. Sonhar. Sonhar tornou-se uma imprudência. Sinônimo
de maturidade é perder a capacidade de sonhar. “Quando eu era jovem, sonhava
mudar o mundo, fazer algo”. E agora? “Agora eu cresci”. Será? Cresceu pra onde,
cara-pálida? Para onde vamos com esses nossos bolsos cheios de vazios? E as
pessoas emburrecem, dia a dia. Não que eu seja inteligente. Não. Mas percebemos
a mediocridade das pessoas por aquilo que elegem como problema. O ônibus que
demora não é problema. O chefe fumar charutos em local de trabalho não é
problema. O problema é o pipi alheio. E discussões a respeito do beijo alheio,
do pipi alheio tornam-se homéricas. Percebo que o tédio não é só meu.
O meu tempo. Tempo de culpar e continuar a culpar. O outro,
obviamente. O importante é ter em quem por a culpa, já dizia uma professora. A
culpa é do gayzismo, do PT, da promiscuidade , do bolsa-família. São questões tão
fúteis que não consigo disfarçar o meu rubor. Noventa paus por mês a uma família pobre (de
gente que nunca experimentou pobreza?), dois seres humanos acariciando-se em
público, a política esvaziada em um discurso “todos são iguais”, que só leva à
paralisia, é o máximo que pessoas pensantes conseguem discutir?!!! Caralho!
Paralisia. Assim eu também definiria o meu tempo. Tempo de
paralisia. Qualquer coisa que justifique a inércia diante do esvaziamento de
nossas vidas. Paralisados. Tornamo-nos uns grandes bundas moles. Não queremos
soluções, não temos coragem para elas. Estamos sempre sem tempo para o que é
importante, ao mesmo tempo que ficamos qual ratos a correr inutilmente em
nossas gaiolas de porcelana. O conhecimento jogado na privada. Horas e horas de
trabalho para revisar frases fúteis, com único proposito de nada. A
inteligência a troco de nada. Sem ideias, sem problemas concretos, sem nada.
Nem mesmo a organização de nosso trabalho é alvo de reflexão. Uma
desorganização completa. O assunto mais empenhado que se consegue discutir, sem
que lembremos tão efusivamente da vida que esquecemos, é sobre futebol. Nada
contra. Mas oito horas discutindo futebol é de emburrecer até mesmo a Einstein!
E se fosse só emburrecedor, mas é chato, tedioso. Ao menos falássemos de sexo,
vá lá. As vezes, meu desespero é tamanho que qualquer coisa DIFERENTE serviria.
Moda, carros, Hugo Chaves, os passarinhos na janela, qualquer coisa, a mulher,
os filhos, os sobrinhos, qualquer um, qualquer um!!! Nossas vidas! O único momento de respiro é
quando há histórias de vida. E as pessoas têm bom humor, são gentis. Não são
burras. Não tem nada a ver isso. É o tédio que come nossas relações.
E acabamos nisso: tédio, tédio e tédio. Paredes brancas
fedendo a merda e ideias brancas e inodoras...
Oh Lord, won't you buy me a night on the town?
I'm counting on you, Lord, please don't let me down
Prove that you love me and buy the next round
Oh Lord, won't you buy me a night on the town?
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